Após acompanhar desde quinta-feira (25), a morte precose do rei do pop mundial, Michael Jackson, resolvi escrever sobre quem o foi para o mundo, não como uma pessoa que estava na mídia por polêmicas causadas nos percausos que a vida lhe impôs, mas pela pessoa humana que era, que tão brilhantemente ajudava pessoas em várias parte do mundo. Quem não se lembra da campanha para ajudar os africanos necessitados?
Porém, lendo em sites e blogs pela rede de computadores, me deparei com a homenagem que o jornalista Zeca Camargo postou em seu blog e resolvi publicá-la, pois conhecedor que é de Michael, com certeza traduz os meus sentimentos pelo rei do pop, que até o momento ainda não foram armazenados.
Como disse bem Alexandre Pires, falando de Michael Jackson, outros artistas são imitados até hoje, mas Michael, é único, ninguém faz o que ele fazia tão bem.
O post de hoje é, claro, sobre Michael Jackson (e não sobre as gravações de “No limite”, como havíamos combinado – preciso explicar?). Escrevo este texto ao som de “Boom bom pow”, o novo sucesso do Black Eyed Peas. Não, isso não é uma heresia. Tampouco uma provocação. Desde a noite de quinta-feira eu (assim como você) praticamente só tenho ouvido músicas de Jackson, nas rádios e nas TVs – uma avalanche inevitável de sucessos, poderosa o suficiente para não deixar ninguém esquecer que não houve, na história do pop, nenhum artista como ele. Talvez por isso mesmo, resolvi, ao longo do fim de semana, olhar menos para esse passado glorioso e mais para os caminhos que Michael abriu. Ou ainda, onde é que tudo que ele criou foi parar. E acabei, naturalmente em “Boom boom pow”.
Poderia ter acabado em outros cantos. No videoclipe de Lady Gaga para “Paparazzi”, por exemplo – ou você acha que todo aquele roteiro de quase oito minutos (para não falar das coreografias no mínimo bizarras naquela mansão) seria possível se as mega produções de Jackson não houvessem aberto o caminho. Poderia ter terminado no pop francês – nas desconstruções dançantes de Daft Punk, e, sobretudo, do Phoenix com seu último trabalho. Ou que tal Karen O – especialmente com o com o sensacional trabalho mais recente, “It’s blitz!”, que é, na minha modesta opinião, um disco para os tempos modernos, como “Thriller” foi um dia. Se fosse olhar só pela dança, a linha de pensamento poderia acabar no vídeo de “Get ur freak out”, de Missy Elliot; ou “Womanizer”, de Britney Spears; ou “As long as you love me”, do Backstreet Boys; ou ainda em qualquer clipe de Beyoncé. Poderia terminar em Stefhany dançando nas ruas de Inhuma. Aliás, você mesmo pode sugerir um aspecto do pop que tem um dedo – ou mesmo uma mão (de preferência, com luva branca!) – de Michael Jackson.
Mas eu, retomando, parei em “Boom boom pow”. Primeiro porque é muito bom. Depois, porque é, ainda que indiretamente, um ótimo legado que deixaria o próprio Michael muito orgulhoso: ali é fácil identificar uma característica forte do rei do pop, que é sua busca infinita para fazer as pessoas dançarem de um jeito diferente. Gênio é assim – tudo que ele faz tem o poder de transformar (e melhorar) o mundo. E se tem alguma coisa que ninguém discute é que ele foi um gênio. Mais: um “entertainer” genial – e é desse cara que quero falar hoje.
A última vez que escrevi sobre Michael Jackson aqui, arrumei confusão. Ou melhor, arrumaram para mim. Fãs mais apressados interpretaram “a parte pelo todo” – uma figura de linguagem chamada metonímia, provavelmente empregada de maneira involuntária pelos tais guardiões do legado do cantor –, e partiram para o ataque. E tudo só porque eu escrevi que eu não adorava “Thriller” – a faixa, e não o álbum. Depois de elogiar várias outras músicas do mesmo disco (exemplo: “Ainda tem o casamento perfeito de rock e soul de ‘Beat it’, essa sim, que lançada em qualquer ano, em qualquer década, iria fazer barulho. E a genialidade de ‘Billie Jean’ – tão perfeita que é melhor deixá-la assim, sem mais adjetivos… você sabe o quanto ela é boa.”), cometi o “pecado” de ser honesto com meu gosto e declarei: “Por tudo isso – e não, insisto, por causa de ‘Thriller’, a faixa – ‘Thriller’, o álbum, merece ser comemorado nesse seu jubileu de prata”. Daí, veio o som e a fúria…
Esses mesmo fãs apressados talvez estejam imaginando que este post é uma reparação – um pedido de desculpas. Lamento informar que minha opinião da faixa “Thriller” continua a mesma. Aliás, assim como minha opinião sobre a enorme importância de Michael Jackson no universo pop. Aos que, por acaso, “vão magoar” com essa minha teimosia, esse é o momento de abandonar esta leitura. Aos que desejam me acompanhar, porém, num pequeno balanço do que Michael significou para o mundo do pop, vamos em frente – porque é disso que eu gosto.
Na última sexta-feira, convidado para fazer um comentário sobre a morte do ídolo no programa “Video Show”, acho que resumi – de improviso, diga-se – um sentimento comum entre fãs e, como disse então, a pequena parcela da população mundial que não era tão fã assim de Michael Jackson: a de que ele vai fazer falta. Para o primeiro grupo, foi-se embora a esperança de ver (ou, para quem teve a sorte de cruzar seu caminho, de rever) essa figura quase mitológica de perto – e também a torcida para que finalmente ele viesse com mais um álbum tão memorável quanto “Thriller”. Para os outros, acabou a diversão – não exatamente no que se refere a sua produção musical, mas aquele prazer “voyeurista” de acompanhar os detalhes (parte crônica rocambolesca, parte farsa trágica, parte comédia “non sense”) da vida do cantor.
De um jeito ou de outro todos nós vamos sentir falta do circo que era tudo que girava em torno de Michael. E que circo bom era esse! Dos detalhes mais sórdidos – que talvez não seja a melhor hora para serem lembrados – aos mais desastrados – vamos ficar só no bebê balançando da janela, pode ser? – tudo que ele fazia virava notícia. E especulação. Quando não lenda… Muito antes de existir a expressão “viral”, Michael Jackson – ainda que com uma velocidade menor do que a que hoje é possível com a internet – já conseguia que um factóide sobre sua vida rodasse o mundo. Suas histórias pareciam mesmo tiradas da ficção – uma atmosfera capturada com precisão na capa da “Rolling Stone” americana de setembro de 1987 (e na reportagem da capa com o título “Michael Jackson é sério?”, de Michael Goldberg e David Handelman). Com tudo isso, essa mistura de carisma estratosférico, talento astronômico, um charme indiscutível, e capacidade de criar confusão simplesmente ao passar por algum lugar, fez da trajetória do astro um espetáculo imperdível – e eu só posso celebrar a sorte de ter vivido nesses tempos em que eu pude acompanhar de perto isso tudo.
E não só isso, claro.
Quero ainda celebrar o prazer de ter vivido para dançar músicas como “Off the wall”, “Don’t stop ‘till you get enough”, “Billy Jean”, “Beat it”, “Black or White”, “Bad”, “Smooth criminal” – além da minha “faixa favorita para contrariar os que gostam dos mesmos sucessos de sempre”, “Leave me alone”. De me fascinar com uma figura tão única, generosa, controversa, adorada, solitária, inspiradora e caricata – quem mais poderia colecionar predicados tão diferentes? De acompanhar – muitas vezes perplexo – o delírio de fãs em várias partes do mundo (olha que eu viajo… e nunca vi nada menos do que uma enorme devoção a Michael em qualquer país que já visitei). De me deslumbrar com a exuberância – e eventualmente rir dos excessos – dos seus videoclipes.
Quanto tempo até vermos camisetas com o slogan “Michael não morreu” em várias línguas pelo planeta? Ao ter morrido com apenas 50 anos, ele deixa seus fãs com aquela sensação estranha entre o transe e o pesar – e passando pela celebração e pela dor. Mas, como já vimos com Elvis, Cazuza, Kurt, Renato, isso passa – e as músicas ficam. Mais presentes que qualquer souvenir disfarçado de memento.
O pop moderno – que ele não só ajudou a definir como seu auto-coroou rei – vai em frente, porque, como já disse a sempre sábia Rita Lee, “o palhaço ri dali, o povo chora daqui, e o show não para”. Se Michael Jackson não deixou exatamente um herdeiro – quem teria a ousadia de se candidatar a tão nobre trono? –, isso não é exatamente um problema. Dezenas, centenas de artistas vão continuar a aparecer todos os anos não para preencher a vaga por inteiro, mas para ajudar a compor um mosaico, sempre colorido, que reproduz em fragmentos o brilho de uma estrela maior. E é essa gente que faz esse espetáculo, que vai sempre em frente.
O pop segue sem o seu rei. Um pouco mais sem graça, é verdade. Mas segue. E acompanhado de um refrão que, por uma estranha associação de idéias, me faz lembrar da belíssima “Música para o funeral da rainha Mary”, de Henry Purcell… Boom boom pow… Boom boom pow… Boom boom pow… Boom boom pow…
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